Meu tom pejorativo não modifica a narrativa
aquele instantâneo sobrecarregando essa sua imagem presa ao passado
a face escura ou triste desse objeto que instalamos entre nós,
daquela carta suspensa pelo correio
talvez fosse preciso um, dois ou mais minutos dentro de anos de paciência.
estes ambientes selvagens
nessa mudança climática
como aquela casa na árvore, as folhas ficavam caindo com qualquer vento. era bonito deitar e ficar olhando entrar pela janela aquilo tudo: luz, folha, vento
Os saltos acrobáticos que dávamos para descer daquele um metro e meio de altura tão alta, tão longe do chão.
Estou um pouco envelhecido com essas lembranças, mas tenho medo de formatar isso.
Você sabe que minha mãe ainda mora naquela rua e nem árvore tem mais por alí? Cada vez que visito acho mamãe mais sozinha e perdida, aquela única casinha no meio da alcatéia de prédios. Talvez a gramática precise reformular esses substantivos coletivos…
Não podemos desbravar esses papéis em branco sem dar nomes. Não acho que essa distância quilometrada seja ruim, apesar dos contratempos, dos dias corridos e apertados dentro de funções que não se diluem com a matemática dos livros. A lonjura que mantemos das coisas para nos resguardar já é suficiente para que “se extinga o fogo na cozinha da casa”.
Foto,texto, titulo: R. Villaça
referencia: F. Gullar(Poema Sujo)
metros cúbicos preenchidos com fumaça
“Essa morte constante das coisas é o que mais dói”
Claro que já passamos da época,
vinte anos a menos e não seriam esses contraventos que iriam te segurar.
Espantoso é pensar como tanta coisa sumiu
"Um lance de dados jamais abolirá o acaso."
Lembrando histórias de um tempo
estava cansado de argumentar coisas que não partilhavam, eram necessidades diferentes…
mas isso ficou categoricamente invisível, conforme fomos criando condições, romances ordinários, poesias que já não funcionam.
isso depõe contra nós.
não ilustra nosso indesejável desmaio…
e uma vontade agonizante e organizada invadia o texto
calando lições de embaraço e a tal função das coisas.
"Quando Ismália enlouqueceu"…
é importante que eu lhe conte dessa ferida aberta
antes dos reis, padres, cartolas
existia o amor e seus formatos,
nada alem disso e tudo ao redor
é necessario que eu lhe apresente essa ferida aberta
levemente cicatrizada
ao redor tudo permanece imovel
menos a dor
acompanho esta ferida
o retorno dos traços
a evoluçao da tragicomédia
o desenlaçar dos vinculos
sem guerras, sem muros
avanço sobre este campo minado
e existe paz
desligo todos os canais: meus veiculos de informação não te avisam de um momento de febre que é minha maxima felicidade.
les chansons d`amour
Le mystère de tes yeux là
Ce mystère qu’en faire ?
Tu ne sais pas
Le secret de ton état
Les secrets, j’en ai des tas
Cette barrière entre nous
Cette barrière qu’en faire ?
Ce garde-fou
Passer la frontière de ton état
Les pieds sur tes terres
Regarde-moi
Il faudra bien que tu t’avances
Si on veut combler la distance
Entre nous
Il faudrait t’accrocher plus fort
Si tu veux t’accrocher encore
A mon cou
Sur tes terres, il fait si froid
Cet hiver qu’en faire
Ne vois-tu pas ?
Que du sol au ciel de ton état
Tout n’est que gel
Réchauffe-toi
Il faudra bien que tu t’avances
Si on veut combler la distance
Entre nous
Il faudrait t’accrocher plus fort
Si tu veux t’accrocher encore
A mon cou
Le mystère de tes yeux là
Ce petit mystère il tient à quoi ?
Se pauvre mystère en sale état
N’a rien à faire entre tes bras.
e algumas aspas…
Perto de fatos mal colocados
está essa janela adormecida
entre páginas arrancadas
entre esquinas vazias
minhas prateleiras
de pensamentos.
do silêncio ao caos.
talvez eu possa dizer
que apesar do meu desconserto,
tudo parece estar bem.
uma porta segura na dor.
"As dores são as dores comuns, as flores são de papel crepom
era aquilo e pôs em risco todo meu impulso
solto e leve
para toda a queda e caindo caindo caindo caindo
Atingindo até os corações das certezas traídas
mas precisava nascer, vir a tona a lama
“Não porque da varanda atiro pérolas”
É porque “eu nao moro mais em mim” e a consequência disso é nao poder morar nos outros.
e ter que ficar vagando,
me dilacerando em toda parte,
um pouquinho em cada tarde de inverno sozinha.
Foto: Carolina
Dia de desanuviar
“Alguma coisa em ti
Só sabe existir assim,
Ao montes
Uma simples risada tua
Toma a boca
O quarto, a rua
Toma a minha tarde inteira.”
Foto: R. Villaça
Texto: Clara Mazini (http://o-ultimo-apague-a-luz.blogspot.com/)
Não, isso também não é verdade
quem sabe agora
hoje
cedo
manha nunca mais
antes de tudo
hora
antes
antes de partir
com tantas
partes
pontes
pedras
tantas por ai
que agora pouco
muito tempo
nao
adiante mais
el lado mas bestia de la vida
saudades fúteis
de repente era isso, essa sua coisa de tirar e pôr
como uma forma de rever todos os pontos
pouco tempo e essa forma nova de rir
pronto, não era isso exatamente que eu queria dizer
já mudei tantas vezes de idéia
agora essa ultima, absurda e desfocada por conta desses arranhões nos óculos.
é preciso reorganizar os cadastros, te colocar no lugar exato para que não se sinta mal caso eu lhe pergunte de casos passados, daquela tal pessoa que você era
Foto e Texto: Rafaella Villaça
Que comecem as estação
Para não esquecer
O Livro sobre Nada
Manoel de Barros
-Com pedaços de mim eu monto um ser atônito.
-Tudo que não invento é falso.
-Há muitas maneiras sérias de não dizer nada, mas só a poesia é verdadeira.
-Não pode haver ausência de boca nas palavras: nenhuma fique desamparada do ser que a revelou.
-A inércia é o meu ato principal.
-Há histórias tão verdadeiras que às vezes parece que são inventadas.
-De tudo haveria de ficar para nós um sentimento longínquo de coisa esquecida na terra — Como um lápis numa península.
Cem anos e me pareceu muito mais
“Fiquei de repente calado e sentido a coisa que me dá de vez em quando, nas ocasiões em que os dias ficam compridos e isso começa de manhã quando acordo sentindo uma aporrinhação enorme e penso que depois de tomar banho passa, depois de tomar café passa, depois de fazer ginástica passa depois do dia passar passa, mas não passa e chega a noite e estou na mesma, sem querer mulher ou cinema, e no dia seguinte também não acabou. Já fiquei uma semana assim, deixei crescer a barba e olhava as pessoas, não como se olha um automóvel, mas perguntando, quem é?, quem é?, quem-é-além-do-nome?, e as pessoas passando na minha frente, gente pra burro neste mundo, quem é?”
A força humana -rubem fonseca
Foto: R. Villaça
pra te dar coragem quando a noite vem…
E no escritorio em que eu trabalho
te dou a lua amanha
Vendo em velhas fotos meu rosto onde não estás,
a face em que estás como dor, esquecimento,
penso em que estarão fazendo na China agora
com tanta tristeza como a que caía em mim,
ou crescerá como outro outono humano
cheio de ouros, de doçura,
como um fogo no meio como teu nome, ou seja
crepitarás ente os lótus de Hangchaw debaixo de outubro
como quando encontrei a justiça no mundo
e era como teu rosto,
melhor dizendo: te amo
Texto: Juan Gelman
Foto: R. Villaça
ela em silencio deve saber do meu sorriso.
acrescentando decibéis ao meu alfabeto
era um Golpe de Estado
por favor
apague meu cigarro
misture meus enredos
mas avise que o samba não passa mais por aqui