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março 12, 2019

Eu não falava sua língua…

quando pensavamos

Não falávamos

Anos atrás, o mundo não era vocalizado, mas os pensamentos sim

Em meio as comunicações verborrágicas e os dilemas do dia: o café esfriava…

Nunca estamos prontos

novembro 29, 2018

as vezes fico lendo as suas coisas
fico pensando que parei de escrever
que parei de ler as coisas com o coração

estamos a mil

fevereiro 22, 2017
Dessa janela anoitecida acompanho teu caminhar leve:
distanciamento escorregadio,  contínuo, imutável.
Você sabe das páginas arrancadas em dias inquietos, vento na esquina vazia
(sem pele macia ou sandália amarrada)
Por dentro dessa roupa manchada, te fazer lembrar dos banho de chuva. quentes. dentro da noite.
No futuro se rebentariam em ondas e ondas de baldes de agua fria.
antes de esquecer tudo.
esse plano trocado ficou assim, enfeite bonito atras dos teus olhos
ou perdido dentro das prateleiras do pensamento
(do silêncio do caos)
talvez eu possa dizer que você pensou demais, racionalizou demais, que apesar do meu desconcerto,
tudo parece estar bem, mesmo com essa porta fechada com dor.

fevereiro 22, 2017

todas as historias
nao contar com as coisas
controlar previsoes espontaneas
instantes dissipadores
ondas sucessivas
o instante que nunca comeca, era a juventude
fazer minha propria roda girar
ser o gene e o engenho

as vezes tenho a sensação de que estamos burlando distâncias

novembro 24, 2012

Esses suspiros longos que damos ao olhar a caixa de email vazia…

Os espaços entre soluços pontuam as frases mais severas:
– Você esteve ausente
– Esta é nossa melhor fantasia
– Vamos dormir

Separei o tempo com essas pausas mas os instantes ficam mais demorados quando invado teu escritório e aponto, teatralmente, um norte para nossos rumos.
Suposições de dominio.

Não trançamos malhas de contenção e isso permitia que nós escorregássemos por entre todos os desejos, sem reconhecermos que existiam traços de sadismo nessa aventura.

Que sensação estranha essa de precipitar teu sonhos.

Sim, estamos nos dias que correm pelos janeiros desse Rio

julho 2, 2012

Todos nós já sabemos, é impossível o mesmo banho no mesmo rio e como me parece ridículo pensar demais sobre isso. Em tardes como a de hoje eu poderia fazer coisas comuns e me acolher nos abraços de alguns amigos, mas é um dia de festa e existem muitos braços para interagir.
Pensando bem, acho que nem todos batalham pela aceitação alheia, mas é comum da balbúrdia chamar atenção com movimentos ousados. Palavras diferentes também.
Você sabe, toda realização está muito distante dos meus objetivos, pois cada dia que acordo eu penso em algo diferente ou alimento os objetivos de ontem com tanta substância que eles crescem rápidos e já não cabem mais nas roupas de hoje.

Não é suficiente pra me prender todo esse concreto embaixo dos teus pés. Nos meus sonhos as cores são muito mais intensas e quando acordo é todo esse céu acima da tua cabeça. É certo, amanhece.
Ontem, depois de um dia confuso, resolvi catalisar toda raiva em um movimento controlado. Li sobre coisas inúteis,fiz exercícios de respiração, resolvi problemas matemáticos do nível fundamental e organizei o meu dia. Essas ações concentram todas as partículas que eu despejaria sem nenhum sentido. Como um ataque de fúria. Em outras línguas eu não consigo ser muito clara, na minha também não e o silêncio acaba sendo muito significativo.
Eu olho para o espelho e abro bem os olhos e não acontece nada, depois abro bem a boca e tenho a sensação de que sou um peixe e vejo tudo muito melhor.
Quando você me esperava chegar em casa de banho tomado e ficava vendo tv, eu me sentia muito importante, mas isso passou e agora desabotôo minha camisa com calma e um olhar um pouco vago.

Quando nossas canções desafinam

maio 21, 2012

Acontece quando um ruído interrompe a sua voz e mesmo que você esteja parada no centro da sala, eu ouço como se você estivesse gritando, muito mais alto que as buzinas
dos carros lá fora.
Aquilo é toda a dor ou ira que as coisas provocam e sua passividade é agressiva pois você parece que vai aceitando e se machucando com tudo. Você é muito exigente e acaba não entendendo que ser exigente te faz perder muitas coisas: o imprevisível, por exemplo.

Enquanto você permanece de costas, eu vou chegar e fechar seus olhos brincando de te dar um susto, mas você vai se assustar de verdade e brigar de verdade e vamos passar umas duas horas sem se falar.

Dezessete andares acima do chão, 2 de janeiro de 2012

março 31, 2012

 

 

Deitada na cama até tarde – só mais um pouquinho… Antes de acordar sonho novamente uma coisa rápida, não lembro mais quando abro os olhos.

Faltam 364 dias para o ano acabar, mas ainda não precisamos nos afligir com isso.

Sás que foi num dois de janeiro que caiu Granada. Assim, num dia que poderia muito ser de chuva como o de hoje. Os reis católicos vindo, passando por cima dos mouros, assim…

Não vou me apegar a esses detalhes, pois parecemos estar felizes, pelo menos mais confiantes já que temos tantos dias para inventar coisas novas.

Agora, não quero que corras desesperadamente para me alcançar mais rápido, temos esses terrenos inférteis onde podemos descansar as ideias. E dormir de olhos fechados.

Eu já estava ali perto das barcas quando você pensou que eu poderia voltar. Não deu tempo de ouvir esse pensamento.

Duas da tarde, dentro da minha casa, meu olhar ficou rolando pela escada e mesmo sem os gatos as coisas pareciam miar…

Deitada na cama até tarde – só mais um pouquinho… Antes de acordar sonho novamente uma coisa rápida, não lembro mais quando abro os olhos.

rede instantânea de comunicação privada

fevereiro 29, 2012

foi depois do gtalk

e uma relação de musicas

depois de 117 trocas de e-mails e conversas pelo

whatsapp

.
uma viagem para Argentina

um trabalho desgastante

alguns choros compartilhados

o tempo passou um pouco rápido

.
menos músicas

outro trabalho

mais 240 e-mails enviados, poucas conversas no gtalk

poucas palavras no whatsapp

.
e uma distância

entre 140 caracteres

sonhando de olhos abertos ficamos mais sérios

fevereiro 7, 2012
.

“Que sonho é esse de que não se sai
E em que se vai trocando as pernas
E se cai e se levanta noutro sonho”

.

No meu filme você caminha assim desengonçada,

abre os braços e mergulha

dentro d’agua sou eu meio boiando

 

sábado, pela manha, acordei antes que me entregassem o jornal

gesto simples e o cabelo ainda embaraçado

agora outra cadeira

a vida é mesmo um tédio

 

vocês esquecem rápido demais

mas acontece logo depois de qualquer coisa um instinto devastador

 

e não fica bem querer que você escreva

que você ache

que não é bem assim que acontece e tudo fica travando seu modo de expressão

que é sua forma de silêncio.

 

 

poucas tem sido as respostas

…….não é nada além do que está escrito aqui,

não é

…….nada menos que

o jeito que você fala ou a forma que

vamos rodando por estradas

 

São em rápidas velocidades que teu rosto fica suspenso e não encontro teus olhos

 

Quando você me acorda durante a tarde e diz que precisa de atenção,  eu escuto,
só um pouquinho com os olhos fechados

Sei que seus exageros são sempre urgentes

E você explica, de uma forma irregular, que é porque você é mimada

Eu entendo tudo pois sei que isso não é radical, você fica com os pés para o alto falando pouco

mas rápido as vezes quando gesticula

e para e fica olhando para a casa vislumbrando os seus quereres

 

……………………………………………..se repete em noites turbulentas

 

Agora é isso: com medos, com vertigem, correndo riscos e perigos pois assim que funcionamos.

 

quando mudo o cenário é pra

………….entender

mas estou meio arredio pois esta fazendo muito sol

e fico pensando em você cortando por esse chão

os asfaltos grudados nos seus olhos

que se alongam em estradas cada vez mais esburacadas

trepidando e xingando

motoboys e desavisados

 

quando bocejamos logo pela manha, cada um para seu lado

mesmo que já aborrecidos

vamos sem trocar muitas palavras

.

por fora
da casa
a promessa de descongelar a geladeira

.

distante mesmo estavam

nossas mãos

e agora nossos olhos

 

ao redor poucos bilhetes

não pensar mais

nas vontades

ela

 

mas

com palavra de honra

não deixo mais o arroz queimar


foto: Charles Bergquis

Quando eu acordo sentindo uma ternura imensa por você.

dezembro 29, 2011

Sei que não está nas minhas cartas conquistar seu território, mas não me privo de falar do caráter desenvolto da sua nuca. 
Minha memória começa no fim dos teus cabelos, quando eles vão se tornando aqueles pelinhos ralos. E que indecisão escolher um melhor caminho para tuas orelhas, nesse duelo caio para a esquerda porque tem um piercing, porque você está com aquele brinco….

  Retorno. Agora temos uma nova tatuagem e ela precisa de admiração. Crio uma projeção cartográfica nas tuas costas, passo a mão de leve – catalogando com cuidado pontos de interseção. Entro em uma expedição nunca imaginada. Encosto o rosto, roço o nariz – porque é o seu cheiro e têm todas essas texturas.

 Dentro desse mar já calmo, coloco o ouvido sobre a tatuagem. Que som sairá?

 Simples. Uma risada tua.


Segunda Via

dezembro 26, 2011

Calma.  Eu vou te levar para passear nesse fim de tarde. Vai ser bom começar a segunda caminhando ao teu lado até aquele café. Aquele que tem na frente do meu prédio. Você vai gostar da chuva, porque também é romântica com essas coisas…

Simples.

Talvez a gente coma antes de subir ou dê uma volta no quarteirão para deixar a música do rádio terminar. – Me apego a esses instantes…

E vou te beijar ainda na garagem.

Elevador. Primeiro. Segundo. Meu andar.

Antes de ligar o computador vamos tomar banho juntos… Vou brincar com toda a espuma do teu cabelo e deixar que você ensaboe minha barba enquanto eu fico igual ao papai noel. Você acha bonito, eu acho graça..

Com você grudada nas minhas costas vamos para a sala. Trabalho um pouco enquanto você faz as unhas. Me olhando discretamente pergunta se está ficando bonito ou qual a cor de esmalte eu prefiro. Sorrindo respondo qualquer coisa. Mas, na verdade, nós sabemos que aquela cor escura que tem nome de fruta deixa você com um jeito bem sexy.

Ameixa. Eu sei que você gosta dessa cor. Também gosto.
Te olho enquanto você fica assim fechado lendo suas coisas, mas as vezes dá esse sorriso porque percebe que não consigo ficar muito tempo calada. É, não fico, mas é bom ficar junto.

Quando tocar a nossa música no rádio vamos fumar mais um cigarro pra dar tempo de ouvir até o finalzinho… – Você sabe como sou com essas coisas…-

E eu  já me acostumei a dividir o chuveiro. Quando você não está fico enrolando pra ver se dá tempo de você aparecer todo apressado – essa coisa que você tem de sempre estar recuperando um tempo perdido. Ando um pouco pela casa pois é certo que toque o interfone e vou correndo te esperar na portaria e te beijar ainda no corredor.
E no elevador. E antes e durante e depois. Porque nosso beijo encaixa

Enquanto eu faço o jantar você encosta nas minhas costas com os olhos assim meio fechados e parece até que estamos sonhando…

É só segunda-feira.
Deve ser a chuva. Parece ser amor.

Parceria com Cíntia Moraes

Ponto e Exclamação

dezembro 20, 2011

Está em desacordo com a minha gramática esse acento circunflexo que você coloca nas minhas sobrancelhas

Canções de Desamar

dezembro 15, 2011

  

Do trabalho mirabolou pequenos planos, traçou estratégias. No fim do dia foi para a rua buscar um pouco de ar, aceitando os olhares e caminhando docemente para encontrar com uns amigos. Andava desprendida de qualquer pudor… Esses princípios que na pratica não significavam nada além de correntes inúteis.
Na terceira dose gostou da roupa que estava usando. A mão já deslizava pelo cabelo, o olhar um pouco ébrio, naturalmente foi se afastando das pessoas…
Encontra com ele por acaso. Acompanhado. Cumprimentam-se rápido. Ela decide ir para casa.

   Mesmo não ligando, eu continuava querendo dizer aquelas coisas todas. Na cabeça rodavam possibilidades, umas aspirinas e whisky. Do balcão eu ficava resgatando as primeiras impressões de tudo, as fumaças rondando… Encontro as digitais da tua boca na minha nuca. Caio em outra imagem perfeita e revejo de esquina teus cílios. Vieram de lá do inicio dos tempos essas vontades –  não se apagam, mas uma hora dissolvem… Se dissipam.
Ministro compressas alcóolicas para aquecer verdades que sempre doem. Muito. Vai passar, eu não esqueço. Administro possibilidades para não me perder nesses desconhecidos tentando aplacar vontades, criando viabilidades para me defender do passado.
Tentar pagar por esses desejos inúteis, dosar essa distância sem me machucar demais…
Uns movimentos para balançar um pouco o pé com a musica de fundo, aquelas meio bregas que grudam na cabeça. Em pouco tempo mudo o ritmo, mas no fundo era one of these mornings,  uma ruborização contemplativa don’t cry, antes que não significasse nada o olhar baixo no, no, no, no, no, no, no, no

Como conseguimos nos sabotar dessa forma tão estranha? Sinto que agora só nos reconhecemos em lembranças. Como?
Antes das desavenças cotidianas fomos nos machucando com a verdade enquanto criávamos forças para nos mantermos sãos e saudáveis. A poesia foi deixada de lado pela realidade que nos sacudia no meio da noite.
E a tua felicidade foi lá… Andar longe da minha. Comemoro tua saúde, brindo ao que fomos…

Agora ando por essas ruas e teu cheiro toca minha memória… Tento um olhar mais amigável para esse vazio. Transcrevo roteiros livres, falas curtas para pensamentos longos demais.
Te encontro ao acaso. Não dura muito. Já em casa, as imagens são as mesmas: everytime we say goodbye i die a little.

Parceria com Cíntia Moraes

por um bando de verdades que não significam coisa alguma

novembro 30, 2011

                                            Amor inexprimível

 

ESCREVER. Enganos profundos, debates e impasses que provocam o desejo de “exprimir” o sentientos amoroso numa criação (notadamente de escritura)

5. Saber que não se escreve para o outro, saber que as coisas que vou escrever não me farão nunca amado por aquele que amo, saber que a escritura não compensa nada, não sublima nada, que ela esta precisamente aí onde você não está – é o começo da escritura.

 

  Barthes, Roland [ Fragmentos de um discurso amoroso ]

Solonguinho Solonguinho

novembro 18, 2011

eu te dou a mão, você fecha os olhos bem apertados, damos três pulinhos e pronto:

Vai aparecer aquela coisa muito boa que a gente perdeu.

misturando Mutantes

novembro 16, 2011

“talvez a semana não tenha mais fim
mas acordei pensando nela
na frente da razão
e eu sonhei.”

Ninguem recrimina, ok?

novembro 15, 2011

Pra que ficar juntando os pedacinhos
Do amor que se acabou?
Nada vai colar
Nada vai trazer de volta
A beleza cristalina do começo
E os remendos pegam mal
Logo vão quebrar
Afinal a gente sofre de teimoso
Quando esquece do prazer
Adeus também foi feito pra se dizer

Tonight I’ll sing my songs again

novembro 9, 2011
Essa sua ligação esta noite foi muito da descabida.  Não porque estivesse chovendo ou porque eu quisesse você aqui. Isso não acontece mais.
Aconteceu que, depois que desligamos, senti uma vontade de andar de moto e acabei lembrando que você aparecia aqui na porta de casa. Tudo escondido, tudo perigoso, tudo acontecendo enquanto todos dormiam. 3h da madrugada. Antes do mundo acordar você me trazia de volta.
Reparei também, eu nem tinha percebido, mas tô usando teu cordão na foto da minha identidade. Olhando assim, naquele 3×4, eu estava bem com uma cara de apaixonada por você. Um pouco chapada também, mas não vem ao caso.
Os gatos parece que te escutaram e vieram ficar perto do telefone, falei pra eles que você os ama muito e que mandou diversos beijos. Eles adoram esse tipo de noticia e ficaram deitados em cima de mim com um sorriso bonito – o mais novo nem imagina que você ligou para gente marcar de castrar ele.
Tanta coisa que eu não sabia que lembrava, mas abri a gaveta logo de uma vez e encontrei tudo: vestígios daquele meu apartamento (o primeiro ninho), passando os olhos em uns bilhetes vi nossa primeira foto – nessa hora eu balancei -, depois segui firme, fechei a gaveta e fui lavar a louça.
Enquanto ensinava os pratos a nadar, lembrei de quando você me ensinou a dirigir, bem ali na Lagoa, de noite. O carro morrendo tantas vezes e você sem ralhar, tempos depois eu já ia no mercado sozinha enquanto você ficava em casa trabalhando.
Naquela infinidade de imagens, contei pra mim mesma que eu ficava lendo para você na cama, porque você nunca gostou muito de ler, mas entendia quando eu te explicava as historias e você sempre acabava dormindo com um sorriso tão bonito que eu ficava me demorando em mais umas 10 paginas.  Mas pela manhã eu sempre tomava banho primeiro para você dormir um pouco mais – das nossas historias essas duas são as que eu mais gosto.
Fiquei nesse ciclo meio viciante e estranho, pois nada disso manteve segura a chave da partida, mas também não desmoronou nenhuma parede dessa casa.
Talvez fique sobrando isso mesmo e muito me respeito quando tenho vontades como essa de andar de moto, mas logo depois de lembrar, tudo vai se diluindo no processo. E se fica alguma duvida é a das mais simples, que não quero resposta. Mas vem assim rodando na minha cabeça que até me sento: – Oh, senhorita, o quanto você também lembra disso tudo?

outubro 24, 2011
quando eu te ligo
e
você não atende
             sinto
que de repente
alguma coisa anda mal
.
mas me deixo um pouco livre
pois pontuais são as madrugadas
minhas ideias te encontram
minha memoria imagina o mesmo lugar
e teu sorriso  estréia as 2h da manhã

Instantâneo

outubro 22, 2011
transporto uma saudade cá dentro
vontade meio besta de alguém ao meu lado…

esse carinho que cresce com teu nome
gera uma escritura, uma posse que te dou em segredo.
me percebo no assalto dessa surpresa oportuna.

talvez sejam esses movimentos
descontínuos
que você pratica de uma forma tão orgânica
que alimenta esse meu bicho

Que eu não sabia ser tão voraz.

Outubro

outubro 13, 2011
Como se a glote fosse se fechar a qualquer instante… Querendo um nome para as coisas, criando – contorcendo – movimentos possíveis. Um rito sumario que praticava sem vínculos com a saudade, sem afeto com lembranças que custaram a ser esquecidas. Pelos outros, não por ele.
A casa permanecia entulhada de outros passados, de vidas comuns. Fugia com um medo de seguir na mesma tragédia familiar – a atividade que nunca seria minha: destrinchar o alimento na hora da ceia, fomentar meus próprios ideais como crença incontestável aos meus filhos.
Diminuta a força que me agarrava a outros elos, evidenciando que eu não estaria são longe dessas febres, não criaria apegos…
Na fome questiono os direitos  próximos, chamando um nome de mãe. Como se só dor não bastasse – precisaria haver a piedade nos olhos de outros. Como se meus sentimentos satisfizessem uma exclusão, uma noção parcial da verdade, do que no escuro era mais um corte.
Me excedo por veias, vasos, por fora era uma conta sem expectativa, por dentro um interesse em criar uma estória elucidada. Como se faltassem lembranças, várias orações que foram-se em chamas. Pervertendo lençóis, cartas…
Era nessa perspectiva de me debruçar no escuro, ora tenso ora denso, a visão embaçada cedendo ao corpo, cólera se incorporando ao medo. Neste espaço sem abastecimento que eu me sentia preso. Carecendo de ruídos, algo que exportasse novos limites de desejo, sem a carência dos mesmos esforços. Mas o cotidiano daquelas medidas, por mais que seguras, estavam soltas. Aonde?
De que local aguardaria o desespero leve da perdição da casa, dos contrastes?
Se recolhia em silêncios. Para quem não sabia, não havia ali, não era uma questão de renegar ou com quais angustias se pronunciaria primeiro.
Nem os gregos viriam lutar por tão pouca terra. E eu creditava ao que era desenvolvimento humano a redução para com o sentido forte do que era palavra, esquecendo que primeiramente não existia filosofia, nem metafisica. Tudo é uma categoria de imaginação para um grito de socorro. que não socorria.

Eu te conheci e entendi que liberdade também é escolher ficar.

setembro 23, 2011

Você iria entender que eu ronco quando estou cansada, que nunca consigo chamar o garçom e se você não fingir que está tudo bem vai ficar mais difícil. Vai descobrir que quando eu te dei aquele anel era a minha forma silenciosa de dizer que eu queria você pra mim, sem te assustar. Que depois da sua orelha o que mais gosto em você é a sua textura.
Enquanto você falava sobre aqueles planos todos de vida, eu ia sentindo um medo terrível de ouvir, porque era tão bonito e eu já me via colocando as bóias de braço nas crianças enquanto você tirava as coisas do carro…
Nós conhecemos tanta literatura, tanta musica, que nossas playlists ficam se esbarrando…
Alem de você ser dessas artes, tem esse querer que as crianças possam sonhar nas paredes da casa e eu cuidaria da parte de colocar minha infância nisso: misturando os Três Tenores, Marisa Monte e Tintas.
Você sempre vai poder dormir no meu ombro depois de tudo, mesmo que já tenha amanhecido e eu já tenha amanhecido, pois vou ficar lendo na cama até a gente acordar junto.
Porque você ama seu irmão e eu amo a minha irmã e nossos irmãos provavelmente vão se amar um pouco, porque eles são geniais demais nas nossas vidas.
Quando chegar o fim de semana ou feriado vamos juntar nossos melhores amigos e nossas melhores famílias (sim, porque não precisamos amar a família inteira), vamos ficar bebendo e conversando. Você interagindo com o mundo enquanto eu dou duro no baralho, na sinuca e disputas pelo nome da nossa família.
Fica combinado de você me ensinar das teorias e eu te reexplicar sobre o futebol americano todas as vezes que você ficar com aquela cara de perdida. Tudo isso em manutenção constante para que sempre fique um sorriso pendente, porque sou mais feliz quando você faz esse olhar tão inesperado quando fica admirando tudo.
Quero manter isso, com cuidados e carinho para que a gente nunca precise se afastar demais.

PS.: A moça de verde ali no canto acaba de perder essa possibilidade de grande amor. eu também.

A case of you

setembro 6, 2011

Temporariamente deixei de entender que as coisas poderiam dar certo entre a gente. Passaria o sábado pensando nas atitudes de rigidez que Carlos teria quando fosse necessário falar que não me agradava mais sua toalha molhada em cima do meu lado da cama, que não pertencia a mim qualquer sentimento que relevasse esse incomodo.
Cecília trouxe flores e eu não esperava por visitas. Desviou tanto minha atenção aquela série de dedicações inesperadas e há tanto tempo esquecidas.
Preparei a maquina para um café enquanto ela colocava as flores na água com a naturalidade de quem convive comigo e me encanta todos os dias com o mesmo habito.
Foi num sábado de pensamentos que preferi calar as ideias pra entender o que me ocorria. Ela estava entrando na minha vida e isso era a única coisa que eu poderia dizer sobre tais sequências:
Colocou um cd no radio e não precisava dizer mais nada porque eu já estava fora de mim pra comentar qualquer ato espontâneo.
Levei o café para a sala e ela estava no chão com a cabeça no sofá, os olhos fechados em espera, a melhor música do mundo girando no rádio como na época de nossas vitrolas.
A case of you passava enquanto eu voltava cantando and i love her para buscar o açúcar.

Uma proposta desencabulada

agosto 21, 2011

Vamos ficar de conchinha espreguiçando o dia que se amanhace todo espalhado de sol e depois do café assentado ficar digerindo a manhã com cafunés e cochichos?
Vamos passar o dia peladas, andando pela casa, fazendo yoga com a tv desligada e o som rolando rolando rolando pelos teus meus ouvidos?
Depois descansamos e nos amamos e sestamos aquele soninho gostoso que acorda pr’um inicio de anoitecer de estrelas dentro de um céu grandão que a nossa janela aberta reduz a uns dez pontinhos brilhantes?
Vamos ficar escutando os passos rápidos dos vizinhos do andar de cima, cheios de pressa e a gente de boresta só preguiçando nossas novas vontades, misturando saliva cosquinha sorvete briecomgeléia aperto abraço remanso?
Vamos ficar caçando palavras de carinho e pontilhando pé-cabelo-bunda-orelha-nariz-seio-perna-nuca-queixo-coxa-dedos pra ver que desenho se formará nessa cama imensa?
Vamos ficar de ousadia dançando no escuro com os braços para o alto e depois rir desavergonhadamente até cansar?
Vamos, dengar até o dia seguinte expulsar a gente do quarto, nos obrigar a colocar roupas para comprar novos pães, novos fetiches, alimentar nossos olhares dos olhares que nos admiram de mãos dadas, olhos brilhando? Depois de tudo a gente volta para casa, alimenta os gatos, se alimenta. E ficamos deitadas, descansadas, esperando…

agosto 13, 2011

Ter a liberdade nos neologismos
e se necessário
brigo com teóricos para
redefinir saciar, Sassá
reaprender a sassiar.

Não hesite, Amor, são só feromônios compatíveis.

julho 29, 2011

E sobre estas pernas bambas a andar por ruas, sob esse céu comprido que se abre em estrelas para nós, Pequena. Tua estatura, teus dedos médios, os olhos sempre em tons de admiração pelas coisas, crianças, paralelepípedos irregulares…
Teu hedonismo tão apurado e essa forma de acarinhar os cabelos, recriando instantaneamente novos conceitos e definições para rebeldia.

Foto: Clara Mazini

julho 28, 2011

Revistas de folhas espalhadas
Armando pistas,
erguendo rastros, fatos
de detalhes arqueológicos.

e ficou marcado
no conceito antigo
dos escavadores de espaço
que encontram o vazio

e números com códigos
serão ramificados em pontes
aos registros

resta agora esperar que resistam,
que revistem a casa
e não te encontrem desprevenido

Sentir sede faz parte e atormenta

julho 23, 2011

Entenda, eu estou tentando entrar na sua história…

julho 20, 2011

penso nas alternativas que tenho para te deter
tentar controlar esse movimento espontâneo que invade o dia
muda a fala
diminui o diâmetro do abraço